‘Rio em Chamas’

Por Fernando Oriente

Um longa coletivo, que utiliza uma grande quantidade de imagens das mais variadas origens e captadas nos mais deferentes formatos, em resoluções que vão de baixíssimos registros de câmeras celulares às imagens em HD de câmeras profissionais. Todo esse rico universo imagético em função de discursos distintos em relação aos protestos e as manifestações de rua que tomam conta do Brasil desde junho de 2013 até os dias de hoje.

‘Rio em Chamas’ é tudo isso, uma colagem de imagens e segmentos em que câmeras presentes no meio dos acontecimentos e das ações registram uma indignação popular contra uma série de fatores que mantém a grande maioria do povo excluído dos processos democráticos do país e reféns de péssimos serviços sócias oferecidos por governos municipais, estaduais e federal incapazes de atenderem a essas demandas.

‘Rio em Chamas’ é um filme político, um filme urgente, um filme manifesto em que o centro de tudo é os corpos de manifestantes em conflito físico com policiais e forças de segurança. Esses corpos e seus embates materiais com as forças de repressão formam o discurso ideológico que pauta as manifestações. É na materialidade desses corpos em movimento, que se unem, que marcham na mesma direção, que apanham e são agredidos, fogem e se reagrupam para continuarem suas marchas em direção ao que reivindicam que está a grande força de ‘Rio em Chamas, um filme de e sobre corpos (e mentes) em movimento.

O filme tem uma montagem aberta, em que fragmentos formam uma unidade e compõem um painel dessas lutas de rua. É um filme livre, que se constrói na cabeça do espectador, que forma um todo, um discurso multifacetado que não explica, mas que denuncia, aponta caminhos e levanta questões sobre as urgências de um país em ebulição, mesmo que ainda, felizmente, não exista um consenso em torno das prioridades dessas reivindicações.

Existe um eixo comum em todo o longa: a brutalidade, a violência e o desrespeito da polícia e das forças de segurança em relação à população. As imagens das agressões e do barbarismo com que essa polícia ataca manifestantes e cidadãos em geral é tônica em ‘Rio em Chamas’, Se existe um discurso que se sobressai no filme é a necessidade de um basta às ações nefastas das PMs, a urgência de se mudar a postura e os mecanismos de ação das nossas forças de segurança.

As sequenciais ficcionais de ‘Rio em Chamas’, bem como os depoimentos, pontuam de maneira inteligente as imagens documentais e reforçam os discursos e os intertextos do filme. Embora o filme não se debruce muito sobre as pautas conservadoras e um certo golpismo de direita que se misturou de forma oportunista aos protestos, em nenhum momento isso é escondido do espectador e chega a ser mencionado em imagens e depoimentos ao longo do filme.

Em ‘Rio em Chamas’ temos cinema de guerrilha (no melhor sentido do termo), cinéma verité, cinema direto e muito mais, Mas temos principalmente um desejo sincero de se fazer um discurso sólido em imagens, uma vontade de cinema aliada a uma necessidade de mostrar de forma independente um momento crucial na história do Brasil e quem vem sendo escrito com corpos, idéias, sangue e muita vontade política nesse exato momento. Ninguém sabe quantos movimentos, quais todas as causas e lutas que estão sendo colocadas nas ruas. O filme, bem como o espectador ao final da sessão, aguarda os desfechos dessa nova onda que toma conta do país.

Por esses e muitos outros motivos, ‘Rio em Chamas’ é um filme que tem que ser visto e revisto com urgência, para que possamos sempre voltar a ele sob as luzes dos acontecimentos futuros.

link para ‘Rio em Chamas’ completo: http://vimeo.com/88130053

 

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