A primeira fase da Copa do Mundo 2014, a fase de grupos, surpreendeu a todos que esperavam mais um mundial com equipes fechadas e jogos com poucos gols. É uma unanimidade entre os que acompanham o torneio que a qualidade dos jogos está boa. O que não implica, necessariamente, em partidas de alto nível técnico ou seleções jogando um grande futebol. O que impressiona é a opção pelo ataque, os jogos com muitos gols, confrontos emocionantes e grandes exibições de alguns jogadores.
As melhores equipes dessa primeira fase, as que jogaram o melhor futebol, foram França, Holanda, Colômbia e Chile. Embora todas essas tenham tido momentos irregulares, seja na atuação displicente em ritmo de treino que a equipe francesa fez contra o Equador, na incapacidade do Chile em ser objetivo e se defender da força holandesa ou na demora dessa mesma Holanda para encaixar seu jogo tanto no primeiro tempo contra a Espanha quanto no jogo contra a Austrália. De todos esses destaques, quem foi mais regular e manteve o alto nível nos três primeiros jogos foi a Colômbia, mesmo sem Falcão Garcia, sua principal estrela, ausente da Copa por contusão, muito disso de deve ao trabalho do técnico Jose Pekerman e ao jogo coletivo de alta performance.
A Costa Rica jogou duas ótimas partidas contra Uruguai e Itália, mostrou uma qualidade boa tática, alguns jogadores com talento e um treinador de alto nível como Jorge Luis Pinto, capaz de alterar esquemas táticos durante um mesmo jogo e ler com precisão o adversário em campo. Alemanha tem um grande time, mas só se apresentou bem contra Portugal, embora tenha feito jogos razoáveis, mas aquém do esperado, contra Gana e Estados Unidos.
Entre os melhores jogadores da fase de grupo, os destaques foram Robben pela Holanda, James Rodrigues na Colômbia, Pogba e Matuidi na equipe francesa, Messi na Argentina (pelos gols, pelos passes e tabelas, espaços criados no meio campo e no ataque, pelo poder de decisão e, logicamente, pelo talento incomparável do argentino, o melhor jogador do mundo e um dos maiores da história do futebol) e Aranguiz do Chile.
Neymar teve uma atuação ótima contra Camarões, mas não jogou bem contra o México e teve um segundo tempo fraco contra a Croácia. Pirlo teve uma exibição de gala contra a Inglaterra, mas não encaixou seu jogo contra Costa Rica e Uruguai. Luís Soares foi arrasador contra a Inglaterra, mas não apareceu contra a Itália. Van Persie jogou muito em momentos isolados, sempre que exigido, mas não participa tanto do jogo como outros jogadores da seleção holandesa. Luis Gustavo faz uma ótima Copa, apesar se suas limitações técnicas e Thiago Silva, embora venha jogando bem, não está à altura de seu melhor futebol, aquele que o faz, talvez, o melhor zagueiro do mundo na atualidade.
A Argentina é uma equipe que não rendeu o que pode nesses três primeiros jogos. Teve Messi genial, um Di Maria razoável e uma equipe ainda fora de compasso e com espaços entre os setores. Os problemas de defesa devem ser corrigidos e a movimentação e aproximação no setor ofensivo têm tudo para serem ajustados para o restante do mundial.
Já a seleção brasileira mostra sérias limitações. Não tem meio de campo, embora a entrada de Fernandinho contra Camarões tenha melhorado o setor, mostra incapacidade de ligação entre defesa, meio campo e ataque, conta com dois laterais em péssimos momentos (especialmente Daniel Alves, um dos piores jogadores desse mundial), falta de opções no ataque, com Fred e Oscar mal em campo, e, para piorar, a equipe brasileira parece não ter opções para mudanças táticas e para modificações de esquema e estilo de jogo. Com exceção de Hernanes e William, não existe no banco de reservas nenhum jogador capaz de acrescentar algo positivo ao time. Algo que lembra muito o Brasil de 2010.
É mais do que necessário destacar a excelente cobertura que os canais ESPN fazem da Copa 2014. Com uma equipe ótima de analistas e comentaristas, debates e mesas redondas de alto nível, bom humor, convidados especiais que sabem muito de futebol e uma capacidade crítica e de análise impressionantes. Além de oferecerem as melhores transmissões dos jogos, com narração segura, comentários pertinentes e sem o oba-oba ufanista e o humor forçado de outros canais.
E para fechar sobre essa primeira fase. Linda a classificação da boa e talentosa seleção da Argélia. Pena a eliminação de Gana e Costa do Marfim, equipes cheias de talentos, mas muito mal organizadas em campo.
Impossível não destacar alguns sérios fatos que acontecem fora dos campos. Prisões arbitrárias, manifestantes agredidos, vendedores impedidos de trabalhar, zonas de exceção onde o país perde autonomia para FIFA e seus patrocinadores, entre outros absurdos. E uma torcida brasileira nos estádios capaz de encher de vergonha a qualquer um com bom senso, com sua postura coxinha, seu elitismo, seu constrangedor canto “sou brasileiro com muito orgulho e muito amoooor” e a incapacidade de incentivar o time e torcer, além de um desfile cafona de Vips insignificantes e suas selfies.