Brian De Palma

‘Blow Out – Um Tiro na Noite’, de Brian De Palma: Epítome da excelência maneirista

Por Fernando Oriente

‘Blow Out – Um Tiro na Noite’, de 1981, deve ser encarado não apenas com uma das obras-primas de Brian De Palma – o que de fato ele é -, mas principalmente como um epítome dos elementos formais, temáticos, estéticos e discursivos da obra desse que é o mais talentoso realizador do cinema americano desde os anos 1970, ao lado de Cimino, Coppola e Abel Ferrara. De Palma surge dentro de um cinema moderno tardio, no qual ele chega como um cineasta que tem que lidar com o peso de toda uma história dessa arte, cuja época clássica já havia se encerrado desde o final da década de 1950 e cuja época moderna enfrentava seu esgotamento no momento mesmo em que ele começava a realizar seus longas; como afirma Alain Bergala, a respeito desse período histórico, em seu ensaio ‘De Certa Maneira’.

O texto de Bergala é sobre o maneirismo cinematográfico e, falar sobre ‘Blow Out’, bem como de toda a obra de De Palma, nos remete obrigatoriamente à questão do maneirismo e alguns de seus conceitos centrais. Os anos 1970, e principalmente os 80, foram marcados por cineastas maneiristas dos mais distintos estilos, que dentro dessa estética produziram filmes que vão da mediocridade (Jean-Jacques Beineix, Luc Besson e vários outros) até a excelência (Brian De Palma, Dario Argento, Raul Ruíz, Philippe Garrel, Coppola, entre outros). São realizadores que “chegaram ‘tarde demais’, depois que um ciclo da história de sua arte já havia sido completado e uma certa perfeição atingida pelos mestres que lhes tinham precedido de perto.” (Bergala).

Essa conceitualização nos permite definir o maneirismo no cinema como uma estética cujos filmes se inscrevem em um jogo de relação entre uma (ou mais) obra originária e uma obra segunda – o filme maneirista -, obra esta que opera a partir da primeira e a ela se remete sempre, num trabalho de distorção, de exageração e de reconfiguração figurativa e narrativa (Fabien Boully). O maneirismo em Brian De Palma é potência criadora, que permite o diretor realizar filmes que transcendem qualquer rótulo. O que De Palma cria em ‘Blow Out’ é uma obra nova; um novo que, como simulacro maneirista, remete a outro cinema, a outras imagens, mas de uma maneira em que o filme acaba por promover novos sentidos e significações daquilo que emula.

‘Blow Out’ parte de duas obras canônicas – duas “obras originárias”: ‘Blow-Up’ (1966), de Antonioni, e ‘Vertigo – Um Corpo que Cai’ (1958), de Hitchcock – o cineasta fetiche de De Palma, aquele a cujos filmes ele irá sempre remeter. O filme acompanha, logo em seus primeiros 20 minutos, Jack (John Travolta), um engenheiro de som que ao captar ruídos para utilizar em um filme de terror de baixo orçamento, acaba por registrar os sons de um acidente de carro que resulta na morte MacRyan, o candidato favorito na próxima eleição à presidência dos EUA. Após o acidente, Jack mergulha no rio em que o carro caiu e consegue resgatar de dentro do veículo a jovem Sally (Nancy Allen), ao mesmo tempo em que constata que o homem que estava ao seu lado já está morto. Sem saber quem era o cadáver, ele leva Sally ao hospital e lá descobre que o defunto era MacRyan.  

Logo na sequência, em uma cena primorosa, vemos Jack ouvindo os sons que registrou na noite do acidente. De Palma constrói esta cena intercalando os sons captados pelo personagem de Travolta com imagens da noite do acidente. Cada som faz Jack ( e o espectador) rever o que ele via ao captar o áudio. Brian De Palma sobrepõe som e imagem, fazendo com que banda sonora evoque não apenas aquelas imagens primeiras que vimos no início, mas novas imagens, que surgem a partir daquilo que os ruídos revelam e que estava oculto numa primeira impressão (imagem) sobre o acidente. No áudio registrado por Jack ouve-se o som de um tiro que antecede o barulho da explosão do pneu do carro. Ao perceber o que realmente o correu, ele procura Sally e, ao lado dela, os dois se jogam em uma investigação para provar que MacRyan foi assassinado.

A partir desse mote, Brian De Palma fará de ‘Um Tiro na Noite’ tanto um thriller de investigação – em que os fatos vão sendo revelados ao mesmo tempo em que os protagonistas passam a serem perseguidos por Burke (John Lithgow), o assassino de MacRyan – quanto um estudo sobre o estatuto da imagem cinematográfica, seus índices de falsidade e veracidade. Em De Palma as imagens aparecem sempre primeiro sob o signo do falso mas, por meio do discurso dramático e ao longo da evolução narrativa, serão questionadas até que a verdade (ou uma verdade) possa emergir daquilo que a própria imagem primeira recalcava.

Em ‘Blow Out’ o som – e toda a banda sonora – irá assumir um papel central, mas apenas e porque o som remete, se direciona e engendra sempre uma imagem; o som como fonte de investigação, questionamento, construção e objetivação da imagem. O som, por meio das imagens que ele faz surgir, vai invocar um elemento central no cinema De Palma: o questionamento sobre o que uma imagem simula e falseia e, ao mesmo tempo, o que ela carrega – de forma latente e indicial – como possibilidade de interpretação daquilo que está submerso sob esse simulacro imagético.

Em ‘Blow Up’, Antonioni parte da imagem fotográfica para questionar o estatuto ontológico e discursivo da representação imagética, bem como reflete sobre os índices do real que uma imagem pode conter ou representar, ao mesmo tempo em que destila de maneira notável comentários sobre um mundo pós-moderno que estava perdendo todos os seus alicerces. Em ‘Blow Out’, De Palma retoma Antonioni por meio do processo maneirista e, sem nunca tirar o peso e o “foco” sobre a imagem cinematográfica, parte do som como índice primário, mas apenas para fazer com que a partir do som as imagens se configurem, se multipliquem, reinterpretem-se sobre si mesmas, mintam e acabem por levar à verdade – a verdade de um Estados Unidos bem distante dos delírios de felicidade ingênuos e capitalistas do american way of life e dos happy ends.

No desenrolar de sua investigação, Jack descobre que Sally havia sido contratada para seduzir MacRyan e levá-lo a um lugar onde Karp, o parceiro da jovem no golpe, pudesse fotografar os dois em situações comprometedoras. Essas fotos seriam usadas para destruir a imagem do candidato, um homem casado. Essa descoberta não afasta Jack de Sally, mas oferece a possibilidade para que ele (e De Palma) consiga solucionar o fato de ter apenas o som, mas não as imagens do acidente. Karp fotografou toda a queda do carro no rio, na intenção de registrar MacRyan com uma mulher bonita e desconhecida dentro de seu próprio carro, mesmo sem saber que o veículo seria atacado por Burke. Com a ajuda de Sally, Jack irá pegar os negativos originais das fotos e montá-las, em uma moviola, junto aos áudios que gravou, construindo assim um pequeno filme, com suas devidas imagens e sons síncronos, que comprovam o assassinato.

No maneirismo de De Palma, em sua hipervalorização da técnica, no fascínio que suas imagens provocam, no brilhantismo de sua mise-en-scène, podemos perceber aquilo que Luis Carlos Oliveira Júnior chama de uma hiper-mise-en-scène, que ele define como “uma complexificação das técnicas, dos estilos, das formas. A construção de dispositivos plásticos cada vez mais intricados, de sistemas visuais, (…) desde a simples composição de um plano, enquadramento, posicionamento dos seus elementos plásticos até a ideia da construção geral do filme.”. A forma para De Palma é sempre um canal de escoamento do conteúdo; pela exuberância dos elementos formais, seus filmes promovem de maneira mais intensa o discurso dramático e suas camadas, ou seja, o dito “conteúdo”.

E o eixo central do cinema de Brian De Palma é justamente sua mise-en-scène; o uso que ele faz de todos os seus elementos constitutivos na confecção de narrativas baseadas na potência das imagens. Para De Palma tudo está na imagem e, ao mesmo tempo, nas dúvidas que cada imagem carrega e nas possibilidades estético-dramáticas que elas engendram. E ‘Blow Out’ sintetiza de forma brilhante esse seu devir cinematográfico, em que os rudimentos do maneirismo fílmico são trabalhados de maneira preciosa, sobretudo pelo uso extremado da composição, o refinamento de seus enquadramentos, o esplendor na composição dos quadros e a ênfase que ele confere a seus movimentos de câmera.

Duas sequências, entre muitas outras, de ‘Blow Out’ são exemplares para se apreender esses procedimentos. Quando Jack entra em seu escritório e percebe que todas as suas fitas de áudio haviam sido apagadas, De Palma nos faz acompanhar a angústia do personagem por meio de um falso plano-sequência de quase dois minutos de duração em que câmera gira ininterruptamente em uma série de panorâmicas de 360 graus. Cada volta completa da câmera pelo seu eixo revela, elipticamente, Jack revirando todo seu escritório e se desesperando ao constatar que todos os seus áudios foram destruídos. O efeito hiperbólico que De Palma imprime a essa cena não é nenhuma afetação formalista, mas sim um estilo magistral de registrar um acontecimento dramático-narrativo de uma maneira original e por meio de um procedimento estético em que técnica é trabalhada dentro de todo seu potencial expressivo, mas sempre em função de efeitos lógico-discursivos para o próprio continuum diegético.

A segunda dessas sequências é o longo clímax do filme, que começa quando Jack encarrega Sally de entregar o filme com o áudio do acidente para um repórter na estação central de metrô da cidade. Só que é o assassino Burke quem se faz passar pelo jornalista e vai ao encontro dela, enquanto Jack fica ao lado de fora da estação, escutando tudo por meio de um grampo que ele coloca em Sally. Ao perceber que algo está errado e que a garota está em risco, o personagem de Travolta sai a sua procura, sendo guiado apenas pelos sons que escuta. Ele precisará associar os ruídos que rodeiam Sally àquilo que seu olhar vê – e no cinema de Brian De Palma o olhar do personagem é o olhar do próprio cineasta, seja esse olhar materializado em planos subjetivos ou ubíquos, que em De Palma se confundem e se fundem constantemente. O olhar do realizador condiciona o olho do personagem, ao mesmo tempo que impõe e manipula o direcionamento do olhar do espectador.

A cada som ou fala de Sally, que Jack escuta e lhe fornecem uma informação geográfica de onde eles podem se estar, seu olhar (e a câmera de De Palma) terá que perscrutinar o ambiente para associar esses sons às imagens dos locais a que ele deve ir. Essa sequência irá culminar num desfecho virtuoso e arrebatador. À noite, em meio aos fogos de artifícios que iluminam e colorem o céu escuro durante a celebração do Liberty Day (o tradicional feriado estadunidense), através de planos em slow-motion, Jack corre em direção a Sally enquanto ela está prestes a ser assassinada por Burke. Ele chega tarde demais, mata Burke, mas Sally já não vive mais. Ajoelhado, Jack segura o corpo da garota, filmado em contra-plongé e com as luzes coloridas dos fogos a emoldurar o fundo do plano.

Além de uma potência extraordinária, esse desfecho remete e conclui a associação do filme a uma de suas obras originárias: ‘Vertigo – Um Corpo que Cai’. Assim como em seu passado Jack foi incapaz de evitar o assassinato de um policial que ele havia grampeado, ele também se mostra impotente em evitar a morte de Sally, a mulher que ele ama. Da mesma maneira como no filme de Hitchcock, o personagem de James Stuart é incapaz de evitar, por duas vezes, a morte daquela que ama.

Se o maneirismo parte de uma obra original e, por condensação, deslocamento, anamorfose e estetização a des-figura ou re-figura, ‘Blow Out’ é a constatação exemplar de como De Palma utiliza esses procedimentos maneiristas e os eleva ao patamar da excelência cinematográfica.

*Texto escrito por mim originalmente para o livro ‘A Arte De…’, da Versátil Home Vídeo, ampliado para esta publicação.

Top 10 Brian De Palma – meus (11) filmes preferidos desse gênio

Por Fernando Oriente

Segue a lista dos meus 11 filmes preferidos de Brian De Palma. O onze é por causa do empate de dois longas na primeira posição. Esse é o primeiro top 10 de um cineasta que publico (me sinto aqui meio como meu amigo Sérgio Alpendre e suas constantes e incríveis listas dos 10 mais de seus cineastas favoritos). Brian De Palma é o melhor cineasta americano surgido nos últimos 50 anos (talvez ao lado de Michael Cimino, Francis Ford Coppola e Abel Ferrara) e um dos dez melhores realizadores da história do cinema mundial.

Segue a relação, por ordem de preferência, dos meus filmes favoritos de De Palma:

  1. ‘O Pagamento Final’ (Carlito’s Way), 1993 / ‘Síndrome de Caim’ (Raising Cain),  1992
  2. ‘Blow Out – Um Tiro na Noite’ (Blow Out), 1981
  3. ‘Trágica Obsessão’ (Obsession), 1976
  4. ‘Carrie’ (Idem), 1976
  5. ‘Vestida para Matar’ (Dressed to Kill), 1980
  6. ‘Femme Fatale’ (Idem), 2002
  7. ‘Dublê de Corpo’ (Body Double), 1984
  8. ‘Missão: Impossível’ (Mission: Impossible), 1996
  9. ‘Olhos de Serpente’ (Snake Eyes), 1998
  10. ‘Os Intocáveis’(The Untouchables), 1987

Nessa lista só constam obras-primas. E alguns filmes do De Palam, por pouco, não entraram entre esses 11 preferidos. São eles: ‘Redacted – Guerra Sem Cortes’ (Redacted), 2007, ‘A Fogueira das Vaidades’ (Bonfire of the Vanities), 1990, ‘A Fúria’ (The Fury), 1978, ‘Irmãs Diabólicas’ (Sisters), 1972, ‘Pecados Guerra’ (Casualties of War), 1989 e ‘Passion’, (Idem), 2012 . Isso sem contar que alguns outros longas realizados por ele, mesmo não tendo o nível desses que já citei, também são ótimos. Afinal de contas, se trata de Brian De Palma.

‘O Pagamento Final – Carlito’s Way’

‘Dublê de Corpo’ e o Cinema dos Simulacros de Brian de Palma

Por Fernando Oriente

O cinema de Brian De Palma é, de maneira muito mais radical que em qualquer outro cineasta, o ponto mais alto de uma arte do simulacro. Seu longa de 1984, ‘Dublê de Corpo’, nos serve de exemplo que resume muitas das principais características, processos e construções fílmicas do diretor. Um filme em que as potências dos simulacros estão impressas na própria matéria da obra, em que a implosão das ideias de modelo, original e verdade conduzem a narrativa por meio de imagens que carregam uma constante sobreposição de camadas de significação, de representações que surgem e se afirmam para logo serem desfeitas pelo irrompimento na tela de, cada vez mais, novas e outras imagens-simulacro.

É cinema moderno por excelência, sendo esse cinema “um cinema do interstício, do ocluso, do recalcado e, portanto, urdido pelo fora de campo”, com escreve Luiz Soares Júnior em sua crítica na Cinética a outra obra-prima de De Palma, ‘Síndrome de Caim’ (1992). ‘Dublê de Corpo’ é uma obra em que esse fora de campo, aquilo que está ausente do quadro, remete não só as tensões construídas dentro da própria narrativa – e que constantemente invocam outros elementos diegéticos que não estão presentas na cena -, mas também a outros cinemas, a outros filmes, não apenas de De Palma, mas principalmente daquele que é o ponto de origem, o fundamento de sua obra: os longas de Alfred Hitchcock. Hitchcock é para Brian De Palma a fonte da criação de seus simulacros; em cada um de seus filmes ele remete o espectador (e a própria narrativa e suas imagens), por meio de imagens-simulacro, à obra de Hitchcock.

De Palma emula seu cineasta fetiche não por meio de processos simplesmente miméticos, mas pela construção de cenas, narrativas, situações dramáticas e histórias que são reconfiguradas por meio de imagens-simulacro criadas por De Palma e que surgem para o espectador de maneira como se fossem imagens originais. De Palma cria imagens novas que remetem, emulam e são simulacro de outro cinema, aquele de Hitchcock. O simulacro é a potência pela qual o cinema de De Palma se materializa. Como escreve Deleuze em ‘Platão e o Simulacro’:

“O simulacro não é uma cópia degradada, ele encerra uma potência positiva que nega tanto o original quanto a cópia, tanto o modelo como a reprodução. Pelo menos das duas séries divergentes interiorizadas no simulacro, nenhuma pode ser designada como o original, nenhuma como a cópia.” (Deleuze, [1969] 2009: 266).

O que Brian De Palma cria em ‘Dublê de Corpo’ é uma obra nova; um novo que, como simulacro, remete a outro cinema, a outras imagens, mas de uma maneira em que o filme acaba por promover novos sentidos e significações daquilo que emula. É essa a potência do simulacro dentro de um mundo em que nada mais é original, onde não existe mais um modelo a ser copiado, existe apenas a diferença positiva dos simulacros.

'Dublê de Corpo'

‘Dublê de Corpo’ remete, como simulacro, a dois filmes seminais de Hitchcock: ‘Um Corpo que Cai’ (1958) e ‘Janela Indiscreta’ (1954), mas emula-os dentro da potência criadora do simulacro. O que De Palma promove em ‘Dublê de Corpo’ é uma apropriação criadora dos filmes de Alfred Hitchcock, em que opera uma construção fílmica que, ao mesmo tempo que remete a seu cineasta fetiche, o reconfigura distorcendo-o. “De Palma introduz uma clivagem da clivagem, porque um artista tardio precisa sempre exagerar na dose para se demarcar da transparência paterna” (Sores Júnior, 2016). De Palma, como todo cineasta moderno, é exemplo ímpar desse tipo de artista tardio que comenta Luiz Soares Júnior. Ao mesmo tempo em que recria e distorce, através de imagens simulacro, os filmes de Hitchcock, De Palma mata o pai por meio da força positivo-criadora desses mesmos simulacros que constrói.

Em breves linhas gerais, ‘Dublê de Corpo’ acompanha seu protagonista Jake, um  pretendente a ator que não consegue arrumar trabalhos bons, apenas pontas ou personagens em filme de gênero de baixíssimo orçamento. Após pegar sua mulher traindo-o ele abandona sua casa e passa a procurar papéis em testes de elenco, bem como um novo lugar para morar. Nesse meio tempo conhece Sam, que se apresenta como ator e que coincidentemente sempre aparece onde Jake está, seja nos testes, seja nas aulas de atuação. Após desabafar seus problemas para esse novo amigo e ser consolado por ele, Jake recebe o convite de Sam para morar por cinco semanas na casa de um amigo milionário que se encontra na Europa – “para tomar conta do local e molhar as plantas”. A casa, uma típica mansão de arquitetura pós-moderna e decoração cafona anos 1980, fica no alto de uma colina em Hollywood, região habitada por celebridades e milionários da cidade. Antes de sair, Sam leva Jake até um telescópio que fica em uma das inúmeras janelas da mansão e o faz olhar, pelo visor, uma vizinha seminua, que dança e se acaricia com as persianas da casa aberta. “Ela faz isso toda noite e no mesmo horário”, comenta Sam. A isca é mordida e Jake, já no dia seguinte, corre ao telescópio para ver esse pequeno show erótico da vizinha.

De Palma constrói essa mansão como um cenário que se apresenta como falso, artificial em seu aspecto espetacular e sua arquitetura, que vista de longe remete a um grande olho situado no alto de uma colina. Essa casa-olho está lá para olhar, para fazer Jake olhar e ver o que Sam quer que veja, bem como, e principalmente, para fazer o espectador ver aquilo que De Palma quer que ele veja, ou pense que está vendo. O olhar da mansão irá subsumir-se vários olhares: o da câmera de De Palma, o do espectador, o de Jake e o do telescópio. A casa-olho como imagem-simulacro está lá para ser o olhar que revelará outros simulacros.

'Dublê de Corpo', de Brian De Palma'

Obcecado pela vizinha sedutora Jake passa a observá-la e percebe a presença de um tipo suspeito que ronda sua casa e que a segue pela cidade. Várias situações ocorrem, Jake acaba por conhecer a vizinha – Gloria. Os dois têm um pequeno interlúdio erótico numa praia e a obsessão do protagonista por essa mulher só aumenta. No mesmo dia em que quase transam na praia, à noite Jake vai ao telescópio e percebe que o tipo estranho que perseguia a vizinha invadiu a casa dela. Sai desesperado para tentar salvá-la, mas não chega a tempo e Gloria é assassinada. Jake é a testemunha, uma testemunha perfeita.

De Palma joga com o espectador ao deixar visível a artificialidade de todas essas situações – o show erótico na janela, o tipo suspeitíssimo de visual ameaçador que persegue Gloria, a mansão-olho toda envidraçada com um telescópio providencialmente colocado à janela e até mesmo a própria situação nada plausível de se conhecer um estranho que se torna seu amigo e, de repente, estar numa mansão no alto de uma colina assistindo a um assassinato e atuando no papel de testemunha perfeita.

Quase sempre no cinema de De Palma, as intensões dos personagens secundários-antagonistas são tornadas claras ao espectador desde o início, só seus protagonistas não percebem. Tudo se parece, a quem assiste ao filme, como sendo falso, como sendo artifícios. O diretor não disfarça alguns de seus principais simulacros para o espectador, só seus protagonistas é que jogam eles mesmos o jogo de isca, atuam dentro de falsificações a partir das quais são tragados; são as vítimas perfeitas para os simulacros de Brian De Palma. Como escreve Iannis Katsahnias em uma crítica na Cahiers du Cinéma sobre ‘Missão Impossível’ (outro imenso filme que Brian De Palma realizou em 1996):  “Todo personagem de De Palma é um sonhador que, como que por acaso, acaba num pesadelo”.

Mas o acaso, outro forte agenciador de simulacros em Brian De Palma. vem sempre provocar mudanças brutas nas narrativas. Então, após ser a testemunha perfeita para o assassinato de Gloria, Jake, “por acaso”, assiste a um canal erótico na TV à cabo e vê uma atriz pornô dançando e se acariciando exatamente como Gloria fazia na janela. Pronto a dúvida é inserida, as certezas desabam e temos agora nosso protagonista a tentar descobrir quem é essa dublê de corpo e por quem ela foi contratada para seduzi-lo  e fazer dele a testemunha perfeita. As máscaras passam a cair uma após a outra, todas as identidades em que Jake acreditava passam a se desfazer, os simulacros vêm à tona e a tensão dramática se insere no centro de ‘Dublê de Corpo’. Jake passa a perceber que tudo era falso, uma falsidade que é marca registrada do próprio cenário onde se desenrola o filme: Hollywood, máquina de construir sonhos e ilusões, fonte inesgotável de identidades e narrativas fictícias, terra dos simulacros.

O telescópio pelo qual Jake observa tanto Gloria quanto o seu duplo recriado – seu simulacro (a atriz pornô que dança para mimetizar seu objeto e ao mesmo tempo para seduzir aquele que a observa) – é mais um dos aparatos de registros de imagem que De Palma insere em Dublê de Corpo, um novo registro de olhar em subsunção em relação ao olhar da câmera, dos personagens e de quem assiste ao filme.  E no cinema de De Palma, o olhar é sempre fracionado, é decomposto numa relação dialética entre o olhar da câmera, o dos personagens, o dos aparatos de registro de imagens e o do espectador – por isso a constante alternância, dentro de seus filmes, entre planos subjetivos e planos narrativos em terceira pessoa – transição que muitas vezes se dá dentro do mesmo plano. Mas este próprio olhar da câmera é constantemente repartido, fraturado e invadido pelo olhar desses outros “aparatos de registro de imagem – câmeras de vídeo, máquinas fotográficas, óculos ou até mesmo simples olhares ocultos (…)” que promovem na diegese mesma dos filmes “(…) algum tipo de joguete de simulacro e manipulação”, como escreve Bruno Andrade em um texto na Contracampo sobre Brian De Palma.

Essa intromissão de outros olhares, outros pontos de vista estão em ‘Dublê de Corpo’, como nos outros filmes de Brian De Palma, para desestabilizar o próprio caráter ontológico da imagem, multiplicando suas formas de assimilação tanto por parte dos personagens quanto por parte do espectador, questionando a própria veracidade daquilo que se vê. Esse processo dos múltiplos aparatos de registro do olhar é tanto uma forma de conduzir e manipular os personagens, como de tragar o espectador num jogo constante de representações que se dissolvem em camadas e mais camadas de simulacros de ficção projetados na tela e pelos quais a certeza daquilo que se vê desaparece no meio desse jogo. O simulacro no (e por meio do) olhar é a própria matéria com que De Palam dirige as texturas dos dramas em que os personagens estão inseridos.

É o olhar, ele mesmo agente de promoção e absorção do simulacro, que conduz o cinema de Brian De Palma. Como afirma Iannis Katsahnias, no cinema do diretor “o olho tornou-se câmera em um mundo regido pelo olhar”. Nos filmes de De Palma o olhar fraturado cria uma “dialética do olhar”. O que vemos em ‘Dublê de Corpo’ é o olhar subjetivo de Jake, conduzido pelas intensões de Sam em faze-lo olhar, que direcionam o olhar do espectador, por meio do olhar da câmera de De Palma a ser transferido para o olhar do telescópio –  como um aparato de registro de imagens – que se dirige a atriz pornô Holly – o simulacro de Gloria – que sabe que está sendo olhada. São múltiplos olhares que, fracionados, conduzem a diegese que só se realiza enquanto fruto desses múltiplos olhares.

Esse processo de construção do olhar fracionado que vemos em ‘Dublê de Corpo’ se relaciona com o que Katsahnias define como “uma relação intersubjetiva entre um sujeito que olhasse e um sujeito olhado que sabendo-se olhado, torna-se ainda mais complexa pela existência de um terceiro olhar”. Nesta passagem, Katsahnias se refere a uma sequência de ‘Irmãs Diabólicas’ (longa que Brian De Palma realizou em 1972) na qual esse terceiro olhar é o de uma câmera de televisão que grava a cena no interior do filme. No caso das sequências da dança erótica de Gloria-Holly, esse terceiro olhar pode ser visto como o olhar do telescópio. Mas, ainda aprofundando o comentário de Katsahnias, existe sempre nos filmes de De Palma, pelo menos, um quarto e um quinto olhares: o de cineasta e o do espectador.

A ficção de ‘Dublê de Corpo’, simulacro por si só – algo que podemos definir como uma das essências do próprio cinema –, tem sua força nessa constante sobreposição de outros simulacros, e atinge seu ponto mais alto devido à perfeição com que De Palma conduz a mise-en-scène, comandando o olhar do espectador o tempo todo, fazendo-o seguir seus simulacros de imagem e dramas encenados, fazendo-o perder-se nesse joguete de múltiplas camadas de percepção e múltiplos olhares, tanto diante daquilo que vê quanto na forma com que tenta codificar a evolução narrativa, ela própria redimensionada constantemente por impulso dos simulacros.

'Dublê de Corpo' 2

Os simulacros em ‘Dublê de Corpo’ remetem também ao próprio fazer cinema, com a constate inserção de filmes dentro do filme. Tanto na abertura quanto na sequência dos créditos finais vemos Jake caracterizado como vampiro durante as filmagens de uma produção de terror vagabunda, misto de horror e soft porn exploitation. As sequências começam como se assistíssemos a uma cena deste filme do ponto de vista de espectadores, mas, por meio de recuos de câmera ou pela intromissão de vozes em off que trazem as frases do diretor desse filme, somos traspostos do interior de uma cena para o estúdio onde ela é filmada, um processo de exposição, no interior do filme, que se revela em um devir do simulacro sendo fabricação, o artifício do falso sendo desmascarado por outro mascaramento, o filme em si.

E aqui De Palma faz uma ligação fundamental: ao mostrar o set de um filme vagabundo, expõe mais uma das filiações de ‘Dublê de Corpo’, nesse caso com cinema de tipo B, de baixo orçamento e temática pop-erótica, que se revela como mais um dentre os múltiplos pontos de origem, mais uma instância fundadora de ‘Dublê de Corpo’ – uma fonte a mais da qual o cineasta irá beber para, a partir dela, criar suas imagens-simulacro e sua narrativa-simulacro.

Esse processo é ainda mais notável na sequência em que Jake vai procurar a atriz pornô que acredita ser a dublê de corpo de sua vizinha assassinada. Ele entra em um estúdio de cinema pornográfico com a desculpa de estar procurando um papel, mas por meio de um corte seco, De Palma encena toda uma sequência de um filme pornô em que Jake é o protagonista – com movimentos de câmera constantes, mudanças de cenários e o décor, os atores e as atrizes caracterizados dentro de um típico do imaginário porn sado-masô new wave dos anos 1980. A cena segue Jake até ele encontrar, em cena, Holly (a estrela pornô, simulacro de sua vizinha). Os dois transam, e na transa De Palma alterna planos de Jake com Holly a planos dele com Gloria – essa cena é sintomática, pois o jogo de simulacros torna-se matéria, dá-se a ver na superfície na tela – Jake, seu desejo por Gloria, desejo esse provocado nele pelo simulacro dela – a atriz pornô Holly. É como se por meio da alternância de planos Jake transasse ao mesmo tempo com Gloria e com seu simulacro. Mas a própria sequência se revela também mais um simulacro quando De Palma quebra o continuum da cena ao revelar Jake e Holly, já num post coitum, em meio a um set de filmagens.

Dentro desses filmes dentro do filme, nessas quebras do realismo-narrativo pela inserção de cenas-simulacros que revelam o fazer cinema, De Palma reserva, para o desfecho do embate final entre Jake e o assassino, mais um jogo de simulacros. Quando o protagonista, em meio a um ataque de claustrofobia, deitado no fundo de uma cova está sendo enterrado vivo por seu antagonista, por meio de um corte e uma mudança de eixo da câmera, De Palma faz com que a ação se desloque para um set de filmagens, em que Jake é retirado do fundo daquela cova, mas que agora é parte de um cenário no interior de um estúdio. Um diretor (o mesmo que vemos na cena de abertura e nos créditos finais) conversa com ele, tenta convencê-lo a ir embora e diz que filmarão a cena depois mas, ao pressentir que se abandonar as gravações será demitido, ele retorna para dentro da cova-cenário e diz que terminará a cena. Novo corte e De Palma nos joga de volta dentro do clímax do conflito entre Jake e o assassino – instante e instância diegética que ele acabara de interromper. A coragem que Jake demostrara no set, em terminar uma cena em meio a um ataque claustrofóbico, é a mesma coragem com ele irá enfrentar o vilão da trama e se salvar.

É nessa constante quebra de certezas, de identidades, de espaços de ação, de índices de verdade diegéticas, nestas camadas sobrepostas de falsos sobre falsos que ‘Dublê de Corpo’ extrai ainda mais força. Relevar que um filme é construído é expor o processo de fabricação de simulacros. Mas não se trata apenas de um meta-cinema – algo já banalizado. O que De Palma promove com esses filmes dentro do filme é um constante retorno ao próprio corpo principal da evolução narrativa de ‘Dublê de Corpo’, mas um retorno nos quais os personagens e as ações voltam modificados, já portadores de diferenças, já trazendo a diferença no próprio retornar. Filmes outros que quebram a ilusão da continuidade do filme principal, mas que ao mesmo tempo, oferecem soluções, refratam desejos e permitem que os personagens adotem novas ações ou revelem outras intenções, não dentro da diegese central, mas nesses pequenos interstícios da evolução narrativa que são os filmes dentro do filme. Aqui já estamos diante do cinema de De Palma que se assume como um constante devir simulacro, em que nenhuma imagem merece confiança, ao mesmo tempo em que cada fotograma importa se quisermos chegar ao fundo da obra – fundo, ele mesmo, que possui vários centros, vários pontos e origens distintas que servem apenas para a fabricação das constantes imagens-simulacro do diretor.

'Dublê de Corpo' 3

‘Dublê de Corpo’ tem toda a sua construção promovida por meio dos mecanismos da simulação, processo engendrado pelo simulacro. “A simulação designa a potência para produzir um efeito” (Deleuze, [1969], 2009: 268). E é o efeito, ou mais precisamente, os efeitos que interessam a Brian De Palma. Efeitos de sentido que fazem a narrativa do filme ser introjetada pelo espectador como uma constante miríade de incertezas produzidas exatamente pelos efeitos da simulação. O que o filme promove é um desvelamento gradual do conteúdo latente situado abaixo do conteúdo manifesto, conteúdo esse que só chegamos a vislumbrar ao longo do filme na medida em que De Palma vai esfacelando todas as aparências e implodindo todas as identidades. Ou como escreve Deleuze “é preciso passar pelo conteúdo manifesto, mas somente para atingir ao conteúdo latente situado mil pés abaixo”.

Em ‘Dublê de Corpo’, como em todo seu cinema, Brian De Palma tanto manipula quanto seduz o espectador. Esse vaivém de simulacros, de imagens que se negam e se reconfiguram em novas representações e significações tencionam e deleitam constantemente quem assiste ao filme, quebram certezas, remetem a imagens anteriores que estão sempre no fora de quadro, no extracampo – no caso do filme, estas imagens modelo são os filmes de Hitchcock, mais precisamente ‘Um Corpo que Cai’ e ‘Janela Indiscreta’. Ao mesmo tempo em que somos manipulados em direção à imagens anteriores do próprio filme e às imagens fundadoras do cinema de De Palma – a obra de Alfred Hitchcock -, somos também, e até em maior grau, seduzidos por aquilo que o diretor nos dá a ver de maneira sempre incerta, por meio dessas imagens-simulacros que impossibilitam a total apreensão do que está diante dos nossos olhos, pela constante reconfiguração e anulação das cenas vistas por meio da introdução de novas imagens-simulacro que surgem na tela a todo instante. Um constante processo em que a narrativa do filme “se auto anula à medida em que progride, aniquila a própria ideia de ficção. Cada nova cena anula a precedente. Cada nova etapa conduz a um impasse e acaba por construir um palácio de espelhos de cristal. Aquilo que vemos não é aquilo no qual cremos” (Katsahnias).

A manipulação de De Palma é um constante seduzir do espectador pela potência com que cria um universo diegético de fascinação, de representações e falsificações do mundo como sonho, como simulacro. O primor com que diretor constrói suas potencializa aquilo que é visto na tela, essas imagens-simulacro que tentam recriar, em forma de pastiche, uma realidade que não tem nada de real – a realidade de De Palma é o mundo como simulacro, e é esse mundo que seduz, que provoca o gozo estético em quem assiste aos seus filmes.

'Dublê de Corpo 4'

É a sedução em participar de um jogo de camadas de representação em imagens que constantemente se sobrepõe umas às outras dentro de uma miríade de incertezas, sendo tudo conduzido por meio de uma mise-en-scène que prioriza a intensidade de daquilo que constrói. É essa intensidade, essa impossibilidade de aproximação total que tanto manipula, quanto seduz o espectador, seja em ‘Dublê de Corpo’, seja em qualquer filme assinado por Brian De Palma. Cinema de simulacros que manipulam e seduzem numa constante não certeza diante daquilo que se vê na tela, diante do gozo do incerto, do falso, do artifício, da simulação e do interstício. Gozo pela própria imagem-simulacro de um mundo que não é o real, que é idealizado no interior de uma concepção de cinema em que tudo é possível, uma máquina de sonhos, de desejos.

A sedução em ‘Dublê de Corpo’ (e em todos os filmes de De Palma) está centrada nesta vicissitude de incertezas diante de imagens-simulacro, desse jogo de identidades fantasmas – Jake, Gloria, Sam, a atriz pornô simulacro da outra mulher, o tipo ameaçador que mata Gloria, o verdadeiro vilão, que se faz vilão ao ter sua verdadeira identidade revelada por baixo da dupla aparência de amigo e assassino -, ou como escreve Deleuze diante do “falso como potência” engendrada por De Palma por meio de uma total fidelidade ao simulacro.

“Subindo à superfície, o simulacro faz cair sob a potência do falso (fantasma) o Mesmo e o Semelhante, o modelo e a cópia. (…) Longe de ser um novo fundamento, engole todo fundamento, assegura um universal desabamento, mas como acontecimento positivo e alegre.” (Deleuze, [1969] 2009: 268).

É esse processo, usado com maestria pelo cineasta, que fascina, manipula e seduz o espectador que se vê diante do gozo provocado pela implosão das diferenças, da anulação da distinção entre mesmo e semelhante, entre o modelo e a cópia, diante do surgimento de acontecimentos (imagéticos-narrativos) positivos que são, de fato, a própria diegese ficcional do cinema de Brian De Palma. “O mesmo e o semelhante não têm mais por essência senão ser simulados, isto é, exprimir o funcionamento do simulacro (…) um condensado de coexistências, um simultâneo de acontecimentos” (Deleuze).

Todo esse mecanismo de simulações imanentes ao simulacro e suas possiblidades faz com que De Palma crie em ‘Dublê de Corpo’ um universo diegético de disfarces que implodem as aparências da narrativa, que desorientam tanto seus personagens como aquele que assiste ao filme, fazendo surgir na tela um deleite de imagens que se projetam em coexistências e num constante simultâneo de acontecimentos. É ao promover, por meio de sua mise-en-scène, as forças contidas no artifício do simulacro, que o diretor eleva  ‘Dublê de Corpo’ a um objeto estético de gozo puro, que se dá por meio da assimilação/não assimilação de imagens arrebatadoras. O cinema de Brian De Palma é o devir da vontade de potência do simulacro.

(Texto dedicado ao amigo Luiz Soares Júnior)

REFERÊNCIAS: 

ANDARDE, B. Brian De Palma: mal visto, mal dito. Revista Contracampo, 2003. Disponível em : http://www.contracampo.com.br/47/depalmaldito.htm

DELEUZE, G. Lógica do Sentido. São Paulo, Perspectiva, 2009. [1969]

KATSAHNIAS, I. O mundo-olhar de Brian De Palma. Cahiers du Cinéma número 507, 1996 In. Dicionários de Cinema, 2010 Disponível em: https://dicionariosdecinema.blogspot.com/2010/12/o-mundo-olhar-de-brian-de-palma-iannis.html?fbclid=IwAR3Y4rBDT8chLTBym8r7Y1VuuX42kdG4M6IlLB0G1VO09PdIs2P8p5lXObY

SOARES JÚNIOR, L. Esquizofrenia e figuração. Revista Cinética, 2016. Disponível em: http://revistacinetica.com.br/nova/esquizofrenia-e-figuracao/